Prata no Mundial, judoca Daniel Cargnin dá a volta por cima

Brasileiro superou série de lesões e foi vice-campeão do mundo em retorno ao Circuito Mundial após oito meses afastado dos tatames

Foto: Tamara Kulumbegashvili/IJF
Foto: Tamara Kulumbegashvili/IJF

Depois da conquista da medalha de bronze nos Jogos de 2020, Daniel Cargnin embarcou na missão de subir uma categoria de peso e escrever um novo capítulo em sua trajetória no judô. Com a decisão, vieram momentos de glória e prestígio no cenário internacional, mas também desafios marcados por cirurgias que colocaram à prova sua força física e mental.

Em 2025, após quase oito meses afastado das competições por conta de lesões, o gaúcho de 27 anos deu mais uma volta por cima e brilhou no Campeonato Mundial Sênior, conquistando uma prata que o colocou, outra vez, entre os melhores do mundo.

A jornada de superação começou em 2023, quando às vésperas do Campeonato Mundial daquele ano, o brasileiro já convocado para o evento precisou ser cortado para tratar de uma lesão nas costas. A pausa interrompeu uma sequência de seis competições consecutivas subindo ao pódio, com medalhas em todos os níveis do Circuito IJF, de Open a Mundial. Foram dois meses de recuperação.

A volta ao shiai-jo aconteceu no Open Pan-Americano da Bahia, em julho, onde foi ouro. Em agosto, ele foi eliminado nas oitavas do World Masters, competição que foi campeão um ano antes e reuniu os 36 melhores do mundo. Já em setembro, conquistou seu primeiro título continental na, até então, nova categoria de peso.

No fim de outubro, veio uma nova lesão que o tiraria do tatame por mais alguns meses. Durante a semifinal dos Jogos Pan-Americanos de 2023, o brasileiro sentiu o tornozelo e precisou passar por uma cirurgia para recuperar a lesão. O retorno veio no Grand Prix da Áustria, em março de 2024, onde também foi eliminado nas oitavas. Já um mês depois, voltou a subir ao pódio no Campeonato Pan-Americano e Oceania do Rio, com a medalha de prata. Em maio, menos de um mês depois, foi quinto colocado no Campeonato Mundial Sênior, mesmo em meio às enchentes em Porto Alegre (RS), cidade onde mora e treina na Sogipa.

Classificado aos Jogos Olímpicos Paris 2024, Daniel chegaria à capital francesa como um dos favoritos a subir ao pódio. Mas, poucas semanas antes da estreia, voltou a sentir o mesmo tornozelo que lesionou em Santiago. Do mesmo jeito, lutou no sacrifício, não conseguindo avançar nas disputas individuais, mas ajudando os companheiros de time a conquistar o inédito bronze na competição por equipes mistas, sua segunda medalha olímpica.

Após Paris, o brasileiro precisou passar por mais duas cirurgias: uma nova no tornozelo e outra no ombro. Voltou em abril de 2025, na Seletiva Nacional para o Campeonato Pan-Americano, e foi campeão. Duas semanas depois, no continental, levou a medalha de prata no individual e o ouro na competição por equipes mistas.

No Mundial, Daniel chegou como 22º do ranking, precisando vencer, no mínimo, três lutas para chegar às quartas de final e sonhar com uma medalha na competição. E ele fez isso.Primeiro, passou pelo alemão Igor Wandtke, adversário que havia perdido na competição por equipes mistas em Paris. Depois, pelo montenegrino Jahja Nurkovic, e, por fim, pelo kosovar Akil Gjakova, seu algoz nas disputas individuais na capital francesa.Já nas quartas de final, o brasileiro venceu o japonês Tatsuki Ishihara e, na semifinal, o sérvio Bajsangur Bagajev, já garantindo medalha no retorno ao Circuito Mundial.

Na final, o ouro não chegou contra o francês Joan-Benjamin Gaba, atual vice-campeão olímpico, mas a medalha de prata representou a consagração de meses de muita resiliência.“Estou muito feliz por toda a trajetória que tive até aqui. O Daniel do pós-olimpíada estaria muito feliz do Daniel de hoje, encarando os desafios. Um dia antes de competir, eu pensei ‘cara, amanhã eu vou tentar ser minha melhor versão’. Eu sempre vivi muito no futuro, pensando na próxima Olimpíada, e acabava esquecendo do presente. Então, eu acho que hoje tenho que agradecer todas as pessoas que me ajudaram, porque não foi fácil. É muito gratificante. É muita felicidade, não só pela medalha, mas pela postura que eu tive. Foram lutas bem difíceis, mas eu acho que consegui manter a cabeça no lugar. Eu vi que eu precisava voltar a ficar mais feliz dentro do tatame, e por isso tento pensar nas coisas boas”, disse Daniel.

A prata do gaúcho no Mundial foi a 57ª medalha da história do judô brasileiro na competição, e a primeira final do masculino desde 2017, quando David Moura também foi vice-campeão na mesma Budapeste.

Contando com a participação deste ano, Daniel tem no currículo cinco Mundiais. Destes, três foram no -73kg e, nos três, ele chegou às disputas de medalha. Em 2022, na estreia no novo peso, foi bronze; em 2024, quinto lugar; e, por fim, em 2025, vice-campeão do mundo.Com a medalha, ele ganhou 1400 pontos no ranking mundial e subiu onze posições na lista, aparecendo no top 11 da categoria.

“Ano passado eu fiquei em quinto no Mundial, e fiquei com um gosto amargo. Aqui, é lógico que eu gostaria de ter sido campeão, mas fico muito feliz pela volta aos tatames. Manter uma constância é sempre muito importante”, finalizou.

Redação Surto Olímpico

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Desde 2011, vivendo os esportes olímpicos e paralímpicos com intensidade o ano inteiro. Estamos por trás de cada matéria, cobertura e bastidor que conecta atletas e torcedores com informação acessível, atualizada e verdadeira.
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