Rosângela Santos corre os últimos 100 metros e se despede da carreira de atleta no Troféu Brasil

Medalhista olímpica e recordista sul-americana, a agora ex-velocista se dedica à gestão esportiva, aos comentários nas transmissões de atletismo no SporTV e à graduação de jornalismo

Foto: Oswaldo F/CBAt
Foto: Oswaldo F/CBAt

Na tarde desta quinta-feira (31/7), Rosângela Santos alinhou na raia 6, com o número de peito 1091. Diante do bloco de partida, enxugou as lágrimas e correu seus últimos 100 metros no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro (CTPB), em São Paulo. A medalhista olímpica do revezamento 4×100 metros e recordista brasileira e sul-americana dos 100 metros despediu-se das pistas no primeiro dia do 44º Troféu Brasil Interclubes de Atletismo.

A agora ex-velocista não conteve a emoção, apesar de dizer que o fim da carreira como atleta não precisa ser, necessariamente, triste. Aos 34 anos, Rosângela está em plena atividade no mundo esportivo: é gerente esportiva na Secretaria Municipal do Rio de Janeiro, onde vive, e comentarista das transmissões de atletismo no SporTV. Também está cursando o segundo semestre da graduação em jornalismo, aproveitando os ensinamentos recebidos no curso de transição de carreira do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Também faz parte do programa Ídolos do Atletismo, da Confederação  Brasileira de Atletismo (CBAt).

“Eu estava me preparando para parar desde 2020. Eu conversei muito com a minha psicóloga e ela disse que o processo não precisava ser doloroso, que eu poderia ir aos poucos, ir destreinando. E foi exatamente o que eu fiz ao longo desse tempo: fui destreinando”, explicou. “E aí eu tive oportunidades de trabalho, estou na faculdade, então não dava mais para treinar. Eu sempre fui muito competitiva e eu não ia entrar em competição para perder.”

Rosângela tinha, no entanto, o desejo de correr pela última vez. “Eu quis fechar esse ciclo correndo. Agradeço muito a CBAt, que abraçou a ideia, e fizeram uma despedida muito além do que eu esperava. Eu estou muito feliz.”

Rosângela Santos nasceu no dia 20 de dezembro de 1990, em Washington (EUA), porque os pais imigraram. Com um ano, veio para o Brasil tratar uma pneumonia, e permaneceu no país. Foi criada por Maria das Graças, a tia Graça, ao lado dos primos Gabriel e Ana Paula, no bairro de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro. Seu avô, Orozimbo de Oliveira, foi um dos fundadores da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel.

Na escola do bairro carioca de Campo Grande, onde cursava o ensino básico, o professor de educação física notou as aptidões físicas da aluna. Rosângela acompanhou um primo que fazia atletismo e a treinadora Edileuzimar Medeiros convidou a garota para um teste. Tinha 9 anos e começou a treinar na Vila Olímpica mantida em Padre Miguel pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Desde o início, as provas escolhidas foram de velocidade.

Como gerente esportiva, Rosângela atua como observadora nas vilas olímpicas municipais. “Faço esse trabalho justamente pela minha história em uma Vila Olímpica: agora, tomo conta de 28 vilas. Faço palestras e clínicas – recentemente, fiz uma com 60 crianças, o que foi muito legal. Também cuido do projeto Time Rio, do qual fiz parte desde a primeira turma, em 2012. São 60 atletas, do atletismo olímpico e paralímpico, atletas como o Luiz Maurício (finalista olímpico do lançamento do dardo) e a Viviane Lyra (da marcha atlética).”

Aos 16 anos, Rosângela iniciou sua trajetória vitoriosa, com conquistas relevantes no cenário do atletismo mundial: foi vice-campeã dos 100 metros no Mundial Sub-18 de Ostrava (República Checa), em 2007. No ano seguinte, qualificou-se para o revezamento 4×100 metros que disputou a Olimpíada de Pequim – o Brasil terminou a final na 4ª posição, mas herdou o bronze após a desclassificação da Rússia por doping. Rosângela se tornou, assim, medalhista olímpica. Após os Jogos, conquistou outra medalha nas categorias de base, com o bronze no 4×100 m do Mundial de Sub-20 de Bydgoszcz (Polônia).

Em 2017, Rosângela se tornou a mulher mais rápida do Brasil e da América do Sul, a primeira a correr os 100 metros abaixo dos 11 segundos: fez 10.91 (-0.2) em 6 de agosto, no Mundial de Londres. Quatro anos antes, estava na equipe que detém o atual recorde brasileiro e sul-americano do 4×100 m (42.29), obtido no Mundial de Moscou.

A brasileira foi finalista (7ª colocada) nos 100 metros da Olimpíada de Londres-2012. Também participou de três finais de Mundiais: ficou em 7º nos 100 metros e no 4×100 metros em Londres-2017 e 6ª no 4×100 m de Daegu-2011. Em Jogos Pan-Americanos, tem três medalhas de ouro: foi campeã dos 100 m e do 4×100 m em Guadalajara-2011 e do 4×100 m em Lima-2019. E ganhou os 100 metros do Troféu Brasil em seis oportunidades (2019, 2017, 2016, 2015, 2012 e 2008).

Em abril deste ano, Rosângela Santos foi agraciada com o 1º Prêmio Melânia Luz, do Comitê Olímpico do Brasil, destinado a mulheres que transformaram o cenário esportivo nacional, no encerramento do II Fórum Mulher no Esporte, no Rio de Janeiro. Melânia foi a primeira mulher negra brasileira a disputar uma edição dos Jogos Olímpicos, em Londres-1948. 

Redação Surto Olímpico

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Desde 2011, vivendo os esportes olímpicos e paralímpicos com intensidade o ano inteiro. Estamos por trás de cada matéria, cobertura e bastidor que conecta atletas e torcedores com informação acessível, atualizada e verdadeira.
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