O Surto Opina traz um pedido, um desejo e até uma urgência de se ter um torneio a nível WTA no Brasil para aproveitar os grandes nomes consolidados e a nova geração que está surgindo.
Devido ao sucesso do ATP Rio Open 2024 para os tenistas brasileiros, uma questão antiga volta aos grandes debates: por que o Brasil não tem um torneio grande da WTA para contemplar as nossas tenistas? Para entendermos melhor este cenário atual, precisamos dividir este texto em alguns pontos e voltar um pouco no tempo.
- O Rio Open nasceu com torneio feminino e masculino, de simples e duplas, assim foi de 2014 a 2016, durando três edições. A partir de 2017 o torneio foi somente masculino em simples e duplas. Algumas das principais alegações para o feminino sair foram a questão estrutural, pois não estava abrigando bem os dois torneios e para ter a quantidade de jogos que se tinha, deveria começar muito cedo (hoje a sessão diurna começa 16h) e numa cidade muito quente e úmida, não ficaria aprazível para todos os envolvidos no espetáculo, assim optaram por ficar somente com o masculino.
- Com isso, o Brasil abriu mão desta data no calendário feminino e o torneio a princípio foi para Budapeste, e hoje está alugada para Monastir-Tunísia, mas teoricamente, a data ainda é do Brasil.
- Em 2016 também marcou a última edição do WTA International de Floripa (atual 250), e desde o ano passado voltou para Florianópolis, mas como 125. Isso mostra que ficamos 6 anos sem sequer um WTA 125 aqui.
- Atualmente o maior problema para trazer de volta um torneio de primeira linha da WTA para o Brasil é conseguir encaixar essa data no melhor momento, provavelmente não seria junto do Rio Open pelas questões já relatadas, e não necessariamente precisaria ser no Rio de Janeiro. O Brasil possui outras cidades com boa estrutura para receber um evento deste porte, além do que se for um torneio único para as mulheres, seria uma forma de dar o protagonismo feminino que elas merecem e conquistaram.
- O diretor do Rio Open, Lui Carvalho, e que também dirige o torneio de Queens e mais dois torneios na China, vem dando entrevistas desde o boom de Bia Haddad Maia sobre o desejo de voltar a ter um torneio grande da WTA no Brasil, e que eles enxergam muito potencial no “produto” feminino. Ele sempre frisa que para fazer isso acontecer precisa de muito planejamento e não pode ser do dia para a noite, mas garante que nos bastidores eles já vem se mobilizando para tornar este sonho em realidade.
Posto todos estes itens para entendermos melhor o porquê de hoje estarmos órfãos de um torneio importante da WTA no Brasil, precisamos agora olhar para o presente e para o futuro do tênis feminino. Hoje temos o efeito Bia Haddad e com a internet, isso pode ser ainda mais bem aproveitado do que foi na época de Maria Esther Bueno. O tênis feminino brasileiro vive a sua melhor fase em quantidade e qualidade da história, e isso pode aumentar.
Atualmente temos a Bia Haddad que já foi top 10 e se mantém no top 20 há mais de dois anos, já ganhou torneios a nível WTA em simples e duplas e chegou na semifinal de Roland Garros. Luisa Stefani é a principal duplista do país, já ganhou diversos torneios de primeira linha, a medalha de bronze nas Olímpiadas de Tóquio e o Australian Open de duplas mistas. Laura Pigossi já foi top 100 e sempre está próxima desta faixa de ranking, também ganhou a medalha de bronze em Tóquio nas duplas com a Stefani. Ingrid Martins é top 50 de duplas e vem em ascensão. Carol Meligeni já foi medalhista de bronze em Pan-Americano.

E aqui está o futuro do tênis feminino brasileiro. Bohrer já tem ranking profissional e vem se destacando nos torneios de início (ITF) e possui apenas 16 anos. Carneiro tem 17 anos e já jogou chaves principais de Grand Slam juvenil. Rivoli tem 15 anos e também tem chamado a atenção nos torneios juvenis; Rivoli e Carneiro já fizeram parte do grupo do Brasil em etapas da Billie Jean King Cup para servirem de parceiras de treino das principais jogadoras e ganharem experiência. Porém, fica com Victoria Barros (14 anos) e Nauhany Silva (13 anos) as grandes expectativas, as duas já vem chamando muito a atenção do tênis, não só nacionalmente, mas do mundo, com títulos e boas campanhas em torneios importantes juvenis, inclusive internacionais. Barros treina na Mouratoglou Academy, uma das principais academias de tênis do mundo e o que se fala é que muito em breve já vai dar os seus primeiros passos no circuito profissional.
Assim como João Fonseca saiu do top 600 para o top 300 com a sua campanha no Rio Open e outros tenistas também conseguiram subir bem no ranking com suas respectivas campanhas, imaginem se essa legião de brasileiras também tivessem um torneio para chamar de seu, o que não poderia acontecer? Torneios de início (ITF) são fundamentais para tenistas jovens darem seus primeiros passos, mas torneios de primeira linha a nível WTA podem impulsionar uma carreira de uma forma muito rápida e inimaginável, sem falar na aproximação delas com a torcida, cobertura da mídia, investimento, patrocínios…
As tenistas do presente merecem um torneio aqui para sentirem esse calor da torcida de forma mais próxima e terem ainda mais chance de subirem em seus rankings, e as mais novas podem muito bem aproveitar esse legado para nunca mais o tênis feminino brasileiro ficar com uma lacuna histórica, como já ficou várias vezes. A hora é essa.
