De erros deliberados, a lances controversos e até erros de digitação, as olimpíadas tiveram muitos momentos de reclamação ao longo dos anos
Não é só no futebol em que a arbitragem causa controvérsias. No foram as vezes na história dos Jogos Olímpicos que erros dos juízes causaram muitos problemas e confusões. E alguns deles, envolvendo brasileiros na arbitragem ou sendo os prejudicados por decisões no mínimo, ‘controversas’ . Confira abaixo nesse SurtoLista especial dos maiores erros de arbitragem em olimpíadas
O recurso da discórdia
Vamos começar com uma polêmica recente, na olimpíada de Paris no ano passado. Ana Barbosu tinha sido medalha de bronze no solo – prova onde Rebeca Andrade foi ouro, mas a romena perdeu a medalha para a estadunidense Jordan Chiles, após um protesto para revisão da nota dos Estados Unidos. Só que os dirigentes romenos resolveram abrir um processo na corte arbitral, alegando que os estadunidenses tinham pedido a revisão de nota depois do tempo estipulado nas regras – o que realmente aconteceu, mostrando a falhas dos juízes em terem aceito este protesto. Apesar do pódio histórico ao lado de Simone Biles e Rebeca, Chiles foi obrigada a devolver a sua medalha de bronze para Barbosu.

Todos os juízes afastados
As competições de boxe na olimpíada do Rio de Janeiro em 2016 deram o que falar. O maior questionamento foi na final dos peso pesados, quando o russo Evgeny Tishchenko e o cazaque Vasily Levit se enfrentaram, mesmo com especialistas e público achando que Levit foi melhor, a vitória foi dada a Tishchenko, o que levou a muitas vaias pelo público presente. Depois dos jogos, a AIBA, então administradora do boxe olímpico, decidiu afastar das competições todos os árbitros presentes na Rio 2016, o que causou mais suspeitas de resultados manipulados
O Segundo fatal
A coreana Shin A-Lam teve uma disputa emocionante contra Britta Heidemann da Alemanha, na semifinal da espada. No último segundo, Heidemann teria acertado Shin e ficado com a vitória por um ponto. Mas parecia que o cronômetro estava zerado quando o toque foi feito e os treinadores das coreana entraram logo com o recurso. Na esgrima, se o atleta sai do campo de combate é entendido que ele aceitou o resultado e Shin A-Lam permaneceu por quase uma hora, em lágrimas, esperando o resultado do recurso, que foi negado, colocando a alemã na final e a coreana na disputa do bronze. Pra piorar, Shin A-Lam foi derrotada e ficou em quarto lugar, sem medalhas.

A medalha no chão
Em Pequim-2008, o armênio naturalizado sueco Ara Abrahamian perdeu a semifinal da luta greco-romana em uma decisão polêmica do árbitro, que tirou um ponto de Abrahamian. Com pedidos de recurso recusados, ele foi obrigado a disputar o bronze e venceu. No pódio, veio o protesto marcante: após receber a medalha, Abrahamian a tirou do pescoço e colocou no meio do tapete, se retirando em seguida. Seu ato foi considerado inadmissível pelo COI, que retirou sua medalha e o baniu das olimpíadas por falta de espírito olímpico – Até hoje Abrahamian foi o único atleta que foi banido dos jogos olímpicos sem ser por trapaça.
Entrou a tempo ou não?
Também em Pequim, tivemos polêmica no Handebol. Na semifinal entre Noruega e Coreia do Sul, um jogo decidido no último segundo, com Gro Hammerseng marcando o gol da vitória por 29 a 28. As coreanas reclamaram de que a bola não tinha entrado antes do fim do jogo, algo que os juízes ignoraram e validaram o gol. A Coreia ainda tentou um protesto para que fosse disputada uma prorrogação, mas a Federação internacional de Handebol rejeitou. As norueguesas ficaram com o ouro e as coreanas, com o bronze.
Erros deliberados (?)
A esgrima passou por um escândalo em Atenas 2004, quando a Federação Internacional da modalidade anunciou a suspensão do árbitro húngaro Jozsef Hidasi por dois anos. Ele cometeu seis erros supostamente deliberados em favor da Itália durante a final da competição de florete masculino por equipes, simplesmente ‘roubando’ a medalha de ouro da equipe chinesa, que perdeu para os italianos por um placar de 45 a 42.
Erro de digitação
Já tivemos erros de árbitros brasileiros em olimpíadas. E um dos mais famosos foi de Ana Maria Lobo, grande nome da história do nado artístico no país, que aconteceu por conta da falta de familiaridade com a tecnologia. Em Barcelona-92, estreava um sistema eletrônico de notas e na decisão da rotina solo, ela acabou digitando erroneamente 8,7 ao invés de 9,7 para a canadense Sylvie Fréchette, favorita ao ouro. Ela tentou corrigir a nota, os técnicos canadenses entraram com recurso, mas não foi possível. Fréchette ficou com a prata e recebeu um pedido de desculpas do COI três anos depois.
Ouro pra aplacar a torcida
Mais uma vez, uma decisão controversa no boxe. Na final do peso meio leve, Park Si Hun ficou com o ouro em cima do americano Roy Jones Jr, em uma decisão dividida dos juízes (3 a 2). A decisão teve muitas vaias do publico, e a TV estadunidense contou que Jones Jr acertou 86 socos contra 32 de Si Hun. Dias após a luta, o juiz Hiouad Larbi, do Marrocos, disse após a luta que ele reconheceu que Jones havia vencido facilmente, mas decidiu a favor de Park para apaziguar os espectadores sul-coreanos, reclamavam muito de perseguição aos seus lutadores durante a olimpíada. Ele foi banido pra sempre do esporte.
Em 2023, Si Hun se reencontrou com Jones Jr e entregou sua medalha de ouro, em reparação da injustiça cometida com o estadunidense.
Injustiça com João do Pulo
Brasileiros garfados? Temos sim! E aconteceu com o lendário João do Pulo nas Olimpíadas de Moscou em 1980. ele foi bronze no salto triplo, mas teve estranhamente dois saltos anulados, saltos que segundo analistas internacionais, os dois teriam sido válidos e um deles, inclusive, teria superado os 18m, o que seria o recorde mundial na época. Segundo investigações do jornal Sydney Herald, era dar um quarto e inédito título olímpico ao soviético Viktor Saneyev, então tricampeão olímpico da modalidade. Mesmo assim, Saneyev ficou apenas com a prata, 17,24m, com o compatriota Jaak Uudmae ficando com o ouro com 17,35 m.

A final que não terminou
O brasileiro Renato Righetto, um dos juízes da final do basquete masculino entre Estados Unidos e União Soviética nos Jogos Olímpicos de Munique 1972, ficou envolvido em uma grande polêmica. Os estadunidenses venciam por 50 a 49, faltando dois segundos. Os soviéticos repuseram a bola em jogo, mas errou a cesta com um segundo de cronômetro. Fim de jogo? Não, porque o técnico soviético alegou que tinha pedido um tempo antes, ignorado por Righetto. Após muita briga e discussão no ginásio, o secretário-geral da Federação Internacional de Basquete (FIBA) na época, o inglês William Jones, interveio, aceitando o protesto. Na retomada do jogo, Serguei Belov, recebeu um grande lançamento e marcou a 1 segundo do fim, dando a vitória para os soviético por 51 a 50. A seleção dos Estados Unidos em protesto não foram ao pódio e nunca receberam a medalha de prata, que estão guardadas em um cofre na sede do COI. Righetto se recusou a assinar súmula por conta da interferência externa.

